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ENTREVISTA COM MV BILL

| | segunda-feira, 23 de março de 2009
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O rapper MV Bill concedeu uma entrevista ao CineSemana na qual fala de música e das suas outras frentes de trabalho, além de comentar o cenário político, social e racial do Brasil. MV Bill já escreveu três livros: Cabeça de Porco, ao lado de Celso Athayde e o sociólogo Luiz Eduardo Soares; Falcão - Meninos do Tráfico e Falcão - Mulheres e o Tráfico, ambos também com a colaboração de Celso Athayde. O rapper e escritor ainda produziu o documentário Falcão - Meninos e o Tráfico, que mostrava a vida de crianças dentro de facções criminosas no Rio de Janeiro e ganhou visibilidade ao ser transmitido pela Rede Globo.

A música é capaz de exercer um papel social?
Eu vejo a música sendo tratada em muitos momentos de forma muito descartável. Tanto por quem a vende, no caso, o meio empresarial, quanto por quem tem feito. Talvez o resultado disso seja a música de tão baixa qualidade produzida no Brasil, pelo menos as que se ouvem nas FMs mais famosas. Acredito que a minha música tem uma ligação social clara porque ela nasceu no meio disso, e outras músicas no Brasil deveriam também tratar mais desse lado. Fala-se muito do amor entre homem e mulher. Eu sinto a necessidade de falar de amor de uma forma colectiva.

O rap perdeu muito espaço para o funk carioca, que se tornou o género mais difundido no País. Porque isso aconteceu?
Isso é culpa do próprio hip hop também, que deu uma acomodada. A exposição do funk se deve um pouco à atitude estagnada do hip hop que parou no tempo ao invés de progredir. Poucas pessoas se preocuparam em dar identidade ao seu trabalho e foi ficando uma linguagem cada vez mais sensual, mais violenta. Teve um período que nossa produção tava se aproximando muito dos americanos. Mas esta perda de espaço teve um aspecto positivo: fez com que o hip hop olhasse para dentro de si próprio. E todo mundo começou a querer melhorar a forma de apresentar suas músicas para recuperar o espaço que a gente acabou perdendo.

Como você entrou para o meio da música e fez disso sua carreira?
Conheci através do filme Colors: As Cores da Violência, de 1988. Ele fala de gangues de Los Angeles que parecem muito com as coisas que acontecem entre as facções aqui no Rio de Janeiro. Minha identificação começou através dessas coincidências, depois eu vi que a música também tinha muito a ver

A periferia é muito estudada e apresentada por antropólogos e sociólogos. O que precisa acontecer para que, como você, mais vozes da periferia falem por si mesmas?
Existem muitas vozes articuladas em várias periferias do Brasil. Eu acho que essas pessoas acabam não tendo visibilidade, por não serem pessoas famosas. Mas existem trabalhos sociais que valorizam essas pessoas, justamente pra que elas sejam protagonistas dessas histórias e não coadjuvantes como são vistas pelos sociólogos e antropólogos. Existem organizações que valorizam essas pessoas para que elas deixem de ser invisíveis e passem a ter voz. E justamente a partir disso que a gente vai ver que eu não estou sozinho, não tenho um pensamento único, não estou desamparado nessa ideologia.

A Central Única de Favelas que você ajudou a criar nasce para contribuir nesse sentido?
A CUFA na verdade é um instrumento que me permitiu articular o que antes eu verbalizava nas músicas. Sem dúvida tem sido o projecto mais importante da minha vida. Eu consigo dividir o pouco que eu ganho com outras pessoas, não através de esmolas ou uma coisa assistencialista, é uma forma de dar reconhecimento às pessoas

Como você vê o negro sendo retratado na mídia, em especial na televisão?
Continua sendo de forma pejorativa, secundária, desdenhosa, desrespeitosa, principalmente nesses seriados de humor da Globo, que retrata os afro-descendentes de uma forma muito ignorante. Apesar do avanço em alguns setores - a gente tem mais comerciais, tem alguns papéis importantes na dramaturgia - ainda está muito aquém da nossa representatividade dentro da população. Parte disso vai também da falta de imposição do próprio negro, falta um pouco de atitude, se rebelar mais, não ficar atento apenas aos seus deveres, se ligar mais nos direitos, exigir papéis melhores, e papéis não apenas na dramaturgia, papéis na vida mesmo como cidadãos.

Quem vê o Rio de Janeiro apenas por meio da imprensa, parece que a cidade está em uma guerra civil. Qual o cenário real no Rio?
Na verdade, a cidade está assim já há muitos anos. Mas começa a ganhar tons alarmantes a partir do momento que a violência de dentro da favela começa a ganhar o asfalto. Sem falar quando passa a atingir também pessoas famosas. Ela deixa de ser uma violência local para ser uma violência de todo mundo. Então para quem já estava dentro, não vê tanta diferença assim. Mas pra quem está fora acaba sendo alarmante

A favela está inserida em um grande problema social. Isso está ligado a uma questão racial?
Chamando de social ou racial, o problema é o mesmo. Quando a gente fala em um problema social, está tentando camuflar o problema racial, mas ele está visível quando a gente vê quem é a maioria dos moradores da favela, maioria dos moradores de rua, maioria da população carcerária, maioria dos desempregados, maioria dos que estão fora da faculdade. A questão racial é muito mal resolvida. O Brasil pensa que não é racista porque a gente tem o racismo cordial, que é velado, as pessoas não dizem na cara das outras o que estão sentindo.

Qual sua posição quanto às cotas universitárias para negros?
São uma resposta às posições que tivemos no Brasil. Esse desequilíbrio que nós temos não foi feito agora no governo do Lula, nem no governo passado, nem na ditadura. Vem desde a época da escravidão, quando foi assinada a lei Áurea e não se teve divisão de bens e terras. A partir daquele momento foram criadas duas sociedades, uma que possui o lado bom e outra com o lado podre. Historicamente, a gente é ensinado desde pequeno a não almejar a universidade, um lugar não pertencente a nós. Isso fez com que muitos jovens perdessem a oportunidade de ganhar conhecimento e de ter ascensão social através dos estudo.


1 comentários:

Anónimo disse...

OLA MEU NOME É JEFERSON MORO NO LITORAL DO RIO E TENHO 18 ANOS E EU TABEM ESCREVO MEUS RAP,MINHAS IDEIAS SOCIAIS POREM NUNCA TIVE OPORTUNIDADE DE MOSTRA-LAS AO PUBLICO, E SINTO SIM QUE NO BRASIL EXISTE PRECONCEITO CONTRA O RAP E OS RAPPERS, POREM ESSA IDEIA MESQUINHA É OQUE O SISTEMA QUER, JA PASSEI POR MUITAS COISSAS NA VIDA JA MASTIGUEI MAIS NUNCA ENGOLI.
O SISTEMA DA NOSSA AÇÃO CORROE A MENTE DO CIDADÃO BRASILEIRO ATRAVES DE NOVELAS, E SERIADOS TUDO PARA QUE AS PESSOAS OCUPE SUAS MENTES E ESQUEÇAM DO MUNDO LA FORA.... BEM NÃO PRECISO FALAR MASI NADA, BEM AVENTURADO AQUELE QUE LUTA CONTRA O SISTEMA, NÃO SÓ POR VOCÊ E SIM POR TODOS NÓS... VLW MV BILL FILOSOFIA DA RUA INVADINDO A MENTE BURGUESA. JEFERSON.((RAP2))

 

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