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O MOVIMENTO HIP HOP QUE NUNCA TIVEMOS

| | sexta-feira, 24 de julho de 2009
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Neste artigo pretendo transcrever o meu humilde e modesto ponto de vista sobre a construção ideológica do nosso Movimento Hip Hop, porém farei antes de forma breve e geral uma abordagem sociológica sobre o contexto em que nasceu este movimento cultural que constituirá a 1ª parte do artigo e uma 2ª parte referente ao Movimento Hip Hop Angolano.
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“Sem a construção ideológica na formulação de um movimento sócio-cultural, estaremos a edificar qualquer coisa de falso sem alicerces”, lembro-me de ter lido esta passagem de sua excelência Agostinho Neto, numa das suas memoráveis obras literárias e a mesma catapultou-me a meditar sobre a construção ideológica do movimento Hip Hop Angolano.
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Parte: I
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O Hip Hop como movimento cultural nasceu nos Estados Unidos da América numa altura em que o país atravessava um período negro da sua história, vigorava na altura um sistema político marcada pela institucionalização da exclusão social da comunidade Afro-americana.
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Esta segregação racial gerava efeitos nefastos e avassaladores nos seus destinatários negando-os o acesso a factores elementares e básicos da vida como: direitos, garantias, saúde, emprego digno e acima de tudo acesso á instrução.
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Durante a vigência deste sistema de segregação e exclusão social,foi nascendo e crescendo na comunidade Afro-americana,um espírito de extrema insatisfação e protestos que mais tarde veio dar origem a pequenas organizações e movimentos de carácter político sócio-cultural que pretendiam de forma extruturada e sistemática organizar os seus ideias de liberdade com o intuito de formular-se uma insurreição generalizada para quebrar o “status quo”.
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Esses movimentos, cooperativas e associações eram de carácter diversificado e abrangiam todas as áreas de actividade da comunidade afro-americana, desde a religião, música, danças e políticas. Todas estas áreas reflectiam e exteriorizavam o espírito de insatisfação pelo sistema de segregação racial.
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Foi neste contexto nublado e conturbado da história norte-americana que nasceu nas comunidades afro-americanas, diversos movimentos e géneros musicais como o blues, soul, gospel, punk, movimentos políticos como os Black Phanters, que reflectiam não só o sofrimento vivido nas comunidades negras, mas também as alegrias e os sonhos de uma América Livre.
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Vários movimentos foram surgindo neste contexto, que posteriormente impulsionaram o surgimento da cultura Hip Hop, que por sua vez não esteve à margem desta realidade, surgindo também como um movimento, com várias expressões culturais entre as quais o elemento musical, marcado por rítmos frenéticos e poesias eloquentes que reflectiam os problemas vividos na altura, assim como os sonhos, alegrias e ambições dos respectivos protagonistas.
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Ou seja havia na altura um conjunto de valores harmonicamente inter-relacionados que constituíam um sistema que formulavam uma ideologia libertária, que caracterizava não só o blues, gospel, jazz, soul, punk, mas acima de tudo o Rap, o elemento musical da cultura Hip Hop. Os Mcs ou simplesmente mestres de cerimónias eram verdadeiros missionários e profetas cujas poesias reflectiam a tão almejada “Liberdade”.
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O Hip Hop tinham uma missão, os Mcs eram verdadeiros missionários, visionários e profetas sociais, que ao lado de outras vozes políticas e religiosas da comunidade Afro, funcionavam como repórteres da comunidade, cujas reportagens musicais reflectiam sempre as tristezas, alegrias e sonhos e acima de tudo a luz no fundo do túnel.
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O Movimento Hip Hop gerou uma febre “total” granjeando mérito por todos os lados em que era representado, e colecionando admiradores locais, regionais, estaduais e posteriormente internacionais.
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Parte: II
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O Movimento Hip Hop Angolano, enquadra-se no âmbito de expansão internacional que gerou durante a fase de desenvolvimento e crescimento vertiginoso da globalização cultural entre as nações. Angola não esteve a margem desta realidade, e foi nesse quadro que nos finais dos anos 80 e princípios dos anos 90.
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Angola é atingida pela tão aclamada “febre” do Hip Hop trazida pelos percursores e pioneiros deste movimento no nosso país como Kool Klever, Phater Mak, SSP, Samurai, GMC, Afroketh e muitos outros.
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Segundo o Poeta “A notícia perde convicção com o tempo e distância” ou seja ao importar-se esta Cultura Hip Hop, que foi concebido e desenvolvido numa realidade social distinta da nossa perdeu-se alguns factores elementares e basilares que identificavam e caracterizavam esta cultura Hip Hop.
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Se nos Estados Unidos da América o movimento Hip Hop surgiu como meio de emancipação cultural em Angola o Hip Hop surgiu como uma moda. Moda essa que era seguida e aclamada por milhares de jovens que apesar da sua maioria estarem a margem da essência desta cultura, sentiam-se atraído por este movimento. “O People põe a mão no ar mas no fundo não compreende” esta frase de Kool Klever, expressava bem o quadro do nosso movimento Hip Hop.
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Nascendo como “moda” o nosso movimento Hip Hop teve desde a sua concepção e divulgação vários factores que desvirtuavam o carácter social e emancipador infringindo os princípios e normas básicas que sustentam a identidade do verdadeiro Hip Hop.
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O Hip Hop angolano nasceu como um “nado morto” que por insuficiências biológicas sempre esteve condenado a uma incubadora. Edificou-se uma realidade social sem precaver-se da sua construção ideológica como elemento de vector social. Dando assim ao Hip Hop Angolano um carácter meramente lúdico com o fim último de mero instrumento de entretenimento e o de amealhar alguns kwanzas.
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Durante anos à fio foram surgindo várias intervenções de figuras incontornáveis do nosso movimento Hip Hop, tais como: Mc K, Grande L, Raf Tag, Hemoglobina, Matafrakuz e muitos outros, com o intuito de estruturar e consolidar esta corrente cultural. Mas como dizia o Poeta “uma só andorinha não faz a primavera” ou seja a mediocridade mostrou-se invencível pois os medíocres são a maioria.
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Com quase 20 anos de Hip Hop em Angola é chegada a altura dos balanços e consultas ao barómetro para vermos se houve progressos e evoluções ou retrocessos e estagnações.
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É chegada á altura de fazer-se perguntas e responder-se as dúvidas e reticências.
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Qual é o papel do Hip Hop no nosso meio social ?
Quantas batalhas sócias foram ganhas por este movimento cultural ?
Quem são os nossos mestres de cerimónias visionários, activistas e profetas ?
Qual é a missão dos mcs angolanos ?
O que é na verdade ser uma mestre de cerimónia ?

São essas e muitas outras perguntas que merecem respostas por parte de todos nós que nos sentimos ligados á este movimento como músicos, colunistas, dançarinos e consumidores no geral.
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“Hoje em dia tudo mudou, o falso é aplaudido iludido por um público sem conhecimento adquirido, espero pelo regresso do Hip Hop ao seu estado Natural” Bob Da Rage Sense; “Sem a construção ideológica na formulação de um movimento sócio-cultural, estaremos a edificar qualquer coisa de falso sem alicerces” Deja Vu
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Ps: Recomendo a todos os amantes do Hip Hop, a consultarem e interpretarem a Declaração Universal De Hip Hop assinada a 16 De Maio de 2001, em Nova Yorke pela U.N.E.S.C.O (ONU) impulsionada pelo activista, filósofo e rapper Krs One, Pop Master Flabs, Mc Daniels, Africa Bambaataa, Harry Allen e muitos outros.
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Lenny aka Soba L
Jurista

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