Cresci a ouvir rap americano nos anos 90, e fui daqueles que testemunhei uma transição do rap americano como uma das artes mais puras, para algo completamente plastificado ao nível do mainstream.
Passou a valer tudo para se vender discos. Os rappers mais hardcore e politicamente incorretos tornaram-se nos mais formatados e radio friendly. Inventaram-se 850 milhões de beefs para se dar buzz a mc’s que se queria catapultar. Rappers como Rick Ross que sempre rimou sobre o facto de ser dos maiores Gangstaz da América afinal era um antigo guarda prisional. Damas como Nicky Minaj têm que pôr silicone nas mamas e no rabo para puderem assinar contractos e ter sucesso comercial. Editoras alugam mansões , carros de luxo e mais mil merdas para rappers fazerem programas como MTV Cribs e ostentarem futilidades que não lhes pertencem ( estão apenas alugadas). Rappers “acordam” namorar com outras celebridades para puderem estar sempre nas notícias e nas revistas cor de rosa e fazerem reality shows. Rappers promovem-se com tiros que levaram, penas de prisão que cumpriram para puderem aparentar “street credibility”. Enfim vale mesmo tudo.
Vale tudo. Desde 97 que oiço falar na figura do Ghostwriter nos Estados Unidos. Biggie e mais outros mil rappers escreviam letras para Puff Daddy, Lil Kim etc. Jay-z escrevia para Foxy Brown. Royce da 5,9 e mais outros mil rappers escreviam para Dr. Dre. Drake assumiu há uns tempos que escrevia para Lil Wayne. Consequence e Rhymefest faziam co-writing para Kanye West. Falava-se que Rick Ross tinha contratado uma dezena de rappers da Florida para escreverem letras para ele, etc etc etc.
Pessoalmente não sou radicalmente contra a figura do ghostwriter, porque realmente vê-se muitas vezes rappers que até soam bem, mas têm letras sofríveis. E se tivessem um ghostwriter seria bem mais fácil ouvirmos a música deles.
Ontem saíu uma notícia avançada e confirmada pela famosa escritora Dream Hampton e pelo blogger Frank Miller que Stic dos Dead Prez e Jay Electronica tinham escrito grande parte do álbum “NIgger” do Nas.
A notícia ainda não foi desmentida por Nas, mas foi contestada pelo Stic e Jay Elec. Conhecendo a indústria musical americana como conheço, se a notícia se confirmar não será uma grande surpresa. Obviamente que Nas nunca confirmará esta notícia, mas se houver mais episódios que a comprovem será uma desilusão para mim.
Já disse não sou um anti-ghostwriter, mas creio que para mim e muita gente o Nas era uma espécie de último moicano na rap mainstream americano. Mesmo tendo andado perdido alguns anos, hoje no meio de toda aquela imundice, ficção e plastificação Nas parecia ser das poucas coisas límpidas que ainda restavam. Representava o rap genuíno como aquele rap que cresceu connosco na rua. Onde o que conta é a espontaneidade, a naturalidade e a tua própria identidade, e aí não há obviamente ghostwriters.
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