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A Língua Portuguesa nas músicas do rapper Phay Grande [Por Hélder Guimarães]

| | segunda-feira, 28 de outubro de 2013
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Phay GrandQuando escrevi o texto, ‘A Língua Portuguesa nas músicas Rap’ levantou-se, na altura, a questão da linguagem manifestamente errada do rapper Phay Grande ‘O Poeta’ nas suas músicas. Na altura preferi deixar este tema para o abordar num texto à parte, e é isto que agora faço.

Se no texto anterior critiquei os erros gramaticais dos rappers nas suas composições musicais, por isso seria muito justo também falar do ‘Poeta’ pois a língua portuguesa nas músicas deste artista apresenta-se muito desacertada.

Os erros de língua portuguesa nas músicas do Phay Grande são demasiado evidentes, além dos erros comuns dos músicos, como os erros gramaticais e de ortografia, as composições deste artista têm ainda muitos erros motivados por vícios de linguagem muito comuns em bairros da periferia onde o grau cultural e de literacia são nivelados por baixo.

As músicas do Grande são férteis em erros de terminações, motivados pelos atropelos das últimas letras da última sílaba das frases que dispara. Ou seja, os ‘esses’ e os ‘erres’ são muito sacrificados, como podemos ler no exemplo da faixa ‘Kota é Kota’; “Kota é kota, num ‘tamo(s) a duvidá(r) quando ‘tás kunanga kotas ficam a criticá(r), arranjas salu mal começas a ganhá(r), os n’gapas de 40 vão queré(r) te feitiçá(r)”.

Mas a verdade é que ‘o Poeta’ quer, apesar das suas limitações na língua portuguesa, fazer passar a sua mensagem e fá-lo com muita facilidade, pois apesar do seu fraco domínio da língua lusa, este artista é, sem dúvidas, um comunicador por excelência e por isso é um mensageiro privilegiado das desventuras do seu subúrbio.

Todavia, a beleza textual das composições do rapper do bairro catambor reside na frontalidade, na linguagem figurativa e na realidade descrita nas suas músicas, onde muitas vezes nos revemos com alguma facilidade porque aquela realidade nos é próxima. O tema ‘Buluzentos’ é um bom exemplo disso.

O primeiro álbum do ‘Phay Grande’ intitulado”Pão Burro” não está carregado de um vocabulário eloquente nem de sonhos megalómanos que nunca serão vivenciados pelo autor ou pela maioria do público que o segue. Mas ao mesmo tempo, e talvez seja por não acarretar tais atributos, a obra traz uma riqueza invulgar que o distingue neste mar de mesmices que é o ‘movimento’ (as aspas são propositadas) Hip Hop nacional.

Nas suas composições, o autor de Pão Burro faz-se comunicar através de um registo de linguagem com evidentes características de angolanidade que traduzem a realidade circundante do meio em que o artista e o seu público estão inseridos.

Mas penso também que, além de querer distinguir-se e identificar-se com o seu público, este rapper consegue, ainda que involuntariamente, afirmar-se com um rap de orientação desigual ao rap dos Mc’s vindos de zonas mais ou menos urbanizadas.

Este registo de linguagem diferente e com fortes características de angolanidade muitas vezes nos remete a uma viagem no tempo, nos recordando do linguajar popular dos angolanos dos subúrbios da época colonial.

Quando ouço uma música do Phay Grande imagino-me a ler uma obra literária no estilo de linguagem popular como as obras de Luandino Vieira e Óscar Ríbas, onde estes autores exploram com uma riqueza de detalhes o farto e diversificado mosaico de vocábulos angolanos daquela era.

Com certeza o leitor estará a dizer que o Phay Grande não escolheu deliberadamente cantar assim e se expressar nestes termos, como são os casos dos autores que citei anteriormente, mas sim porque ele tem mesmo muitas limitações na oralidade. Não está errado, mas digo-lhe já que ‘o Poeta’ também está consciente das suas restrições.

É aí onde reside o curioso nisto tudo, ou seja, mesmo sabendo dos seus limites no domínio da língua lusa, o artista não se acanhou, antes pelo contrário, fez mesmo do seu ponto fraco uma mais-valia para expor a sua arte e se fazer comunicar.

Penso que o modo como o Phay Grande compõe as suas músicas, além de o distinguir entre os demais, ajuda-o a estar entre aqueles artistas que podemos dizer que fazem ‘rap angolano’ (porque defendo que existe rap angolano e rap de Angola). Esta postura torna-o distinto num vasto universo de artistas.

Mas se as limitações no domínio da língua lusa são um ponto fraco na trajectória deste rapper, as mensagens autênticas e carregadas de positividade são a mais-valia da sua carreira. Músicas como ‘Ou uma ou outra’, que desaconselha o uso de bebidas alcoólicas no momento da condução e ‘Essa é a vida’ onde o artista passa uma mensagem de incentivo aos ouvintes a continuar a lutar apesar das dificuldades da vida, são um exemplo do que acabo de dizer.

Quando ouvimos Phay Grande ‘O poeta’, deixamos para segundo plano os erros de português porque além do excelente flow e atitude do artista, a mensagem carregada de positividade nos absorve de tal modo que os erros de linguagem acabam por constituir um mero detalhe insignificante.

 

Por: Hélder Guimarães


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