Tal como prometido, vim postar uma entrevista feita por Miss Djei (Lusohiphop Team) à Iveth a.k.a. CBC, da Cotonete Records (Moçambique).
Já haviamos postado abaixo o single, mas agora podem ficar a saber um pouco mais sobre esta female mc. No final da entrevista poderão encontrar algumas músicas disponíveis para download. Kanimambo
01. O que achas do actual hip hop lusófono e do Moçambicano em particular?
!veth: Pessoalmente, acho que o Hip Hop, tem sofrido uma evolução alarmante, a ponto de começar a cumprir com a sua missão social que é de critica social, logo, ser objecto de muita atenção em todos os escalões de uma sociedade.
Os músicos estão a evoluir, tentam sempre ser mais criativos e optar por uma qualidade de som e imagem invejável, internacional e internacionalizável.
Os estilos de Hip Hop tem se multiplicado e cada um tem evoluído.
Um dos pontos negativos para mim é que tentamos desenvolver um Hip Hop mais internacional, por vezes esquecemos de juntar o Hip Hop àquilo que é de raiz...os ritmos tradicionais.
02. Qual o significado de CBC?
!veth: Hum...esta é uma das perguntas que nos últimos dias tem abundado...
CBC, foi o meu primeiro AKA e é muito representativo para mim... o descobri ao fazer uma letra em inglês em 97 acho...
“Like a crazy black chick I’ve been doin´this…
Like a crazy black chick I’ve been runnin´ in this street
Like a crazy black chick I’ve been singin´ so sit…listen it and feel this beat with me…”
Significa Crazy Black Chick... Crazy -liricist, Black -afro e Chick-young woman… e a primeira vez que o Sick Brain (Beat Crew) me perguntou e eu respondi... Crazy Black ChicK...pegou!
Actualmente tenho muitos AKAs como Mic Deuse, Nkosikazi, Thua Tujú, Black Afro, Godessa...mas prefiro que me tratem por Iveth!
03. Quem são as suas influências (uma em particular) ?
!veth: Lauryn Hill, e isso já é do domínio público! Eu particularmente me apaixonei pela sua inteligência. Na altura dos “The Fugees” e depois com os seus albuns a solo, a baptizei minha diva! Acho-lhe inteligente, bonita, talentosa, ela canta e reppa, ela compõe suas músicas, produz, ela é mãe, é esposa...para mim ela é perfeita. Sem contar com a sua forma de fazer Hip Hop que é “suis generis” e tem sempre um pouco de critica social...esta foi a minha maior influência no Hip Hop.
04. MC que admira (Female/Male).
!veth: Nas! Eu adoro o Nas..., Talib Kweli, Mos Def- acho-os Mcs superdotados. Para além da Lauryn Hill, aprecio também Foxy Brown, Da Brat.
Nos Palop admiro Mcs como Gabriel o pensador, Valete, Sam the Kid, Afro man, dentre outros.
Em Moçambique Sick Brain, Caos, Gina, Fat Lara+.
05. Como te sentes por ser uma das poucas Female Mcs na Lusofonia tendo o reconhecimento que tem?
!veth: Na verdade, o reconhecimento só me atiça a humildade...e pressiona-me a fazer mais e melhor. Não sei até que ponto os admiradores de Hip Hop noutros países da lusofonia admiram a minha música, mas internamente (em Moz) algumas pessoas e/ou entidades têm elogiado muito o meu trabalho, o que me faz sentir muito bem.
Mas como eu sempre digo, gostaria que houvesse mais “Kapulana Hip Hop” e luto por isso! Seria melhor termos várias Mcs...acho que tou a procura de companhia (he,he,he....).
06. O que tens a comentar sobre a participação das mulheres no Hip Hop? Acha que poderá significar alguma revolução?
!veth: Acho que já comecei a responder esta questão na questão anterior...
Pessoalmente, tendo vindo a analisar a participação das mulheres no Hip Hop e facilmente concluído que é minúscula em quantidade, porém, por vezes grandiosa em qualidade. Ou seja, as poucas que fazem por vezes fazem-no muito bem.
Em todos os elementos do Hip Hop é escassa a participação da mulher ( Dj, Graffite, Bboy/Bgirl, Mc e Não violência), a mulher é quase sempre a destinatária e não a emissora.
E isso preocupa-me, porque eu quero continuidade! E continuidade pressupõe quantidade, mais female Mcs a aparecerem e depois disso trabalha-se na qualidade.
Actualmente luta-se pela emancipação das mulheres à todos os níveis, e acho que Hip Hop é uma área que várias mulheres podem apostar. O Hip Hop forma, molda como pessoa e transmite valores bem como atitudes positivas para quaisquer cidadãos.
Temos que desmistificar que o HHop é por natureza masculino e isso ninguém fará por nós...por isso precisamos de quantidade! E até certo ponto poderá se considerar uma revolução feminina no Hip Hop se tivermos uma participação maciça e efectiva das mulheres no mesmo…
07. O que tem a dizer áqueles mc's que afirmam que o Rap não é para as mulheres?
!veth: Diria... “Olhem para mim!”
Se Hip Hop não é para mulheres o que é que eu faço aqui?
Das duas uma...ou o conceito de mulher mudou nos dias actuais ou eles desconhecem o conceito de mulher...pelo que aconselharia a percorrerem um pouco dos dicionários de Biologia, Sociologia e mais.
Hip Hop é para todos! Negros, brancos, albinos, homens, mulheres, asiáticos, bantus, para mim, para ti...para todos...Hip Hop não discrimina.
08. Alguma ocupação profissional para além do Hip Hop?
!veth: Hum...Muitas! Eu me apelido de “jovem turbo” e os motivos já deixei ficar num artigo meu “Pensa(dor)- relatos da minha escassa lucidez”.
Sou licenciada em direito e actualmente trabalho como Jurista, sou ao mesmo tempo docente universitária estagiária numa das Faculdades de Direito do país. Sou ainda activista de direitos humanos e coordeno uma revista sobre a matéria, para além de fazer parte em alguns movimentos de emancipação juvenil.
No âmbito artístico para além de Hip hopper, sou poetisa e compositora. Acho que...por hora é tudo que me lembro.
09. Como é trabalhar na Cotonete Records?
!veth: É interessante. O Joe (manager) é uma pessoa excelente, os outros membros da Administração idem...são pessoas muito especiais e devo muito à elas. O elenco artístico da Cotonete é recheado de talentos que são ao mesmo tempo ilustres (ideiotas) brotam ideias. A criatividade é uma característica do grupo e o facto de todos serem bons naquilo que fazem, incentiva a cada um a fazer sempre melhor.
10. Izlo e Azagaia têm um rap mais virado para o carácter político, podemos esperar o mesmo de ti?
!veth: “O homem é por natureza um animal político”... A abordagem do Aza e do Izlo tem uma perspectiva muito politizada e nesse prisma eles fazem-no muito bem.
Acredito que o Hip Hop com o seu cunho forte de critica social, desagua sempre nesse mar político. Mas não esperem o mesmo de mim!
Tenho feito um esforço de criar uma linhagem “suis generis”, e acreditamos que seja correcto porque cada um tem uma existência única. Irão provavelmente ouvir um Hip Hop poetizado, não politizado...ainda que de quando em vez aborde temáticas políticas, mas friso...essa não é a minha linhagem.
11. Como descreve o seu rap?
!veth: Positivo, Interventivo e Educativo... O meu RAP é um surge et ambula vivo, “acreditador” de um amanhã mais coerente.
12. Uma mensagem para aquelas mc's que ainda estão "atrás da cortina"?
!veth: O Hip Hop é muito mais que música, é uma cultura, é um “modus vivendi”. Antes de saires de trás da cortina, esteja certo de que estás preparado para o mundo...liricamente, psicologicamente e fisicamente e não te deixes levar pelos “falsos Messias” que abundam no Hip Hop divulgando seus “satánicos versículos”. Separe o trigo do joio e...bola pra frente!!!!!!!
*Gregos e Troianos
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*Seja Feliz
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*Mais Hip Hop No Teu Ouvido (Will Jay, Azagaia, Iveth & Rage)